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quinta-feira, 25 de julho de 2013

Agricultura – Uma moda passageira ou uma janela de oportunidade?


Key Word´s – Agricultura, Investimento, Incentivos e Futuro.

Caros amigos (as) empresários (as),

Depois de uma prolongada ausência estou de volta. Obviamente não estive parado. Felizmente a minha vida profissional tem sido preenchida e cheia de desafios.

O artigo sobre o qual me vou debruçar é um dos maiores desafios, mas também uma das maiores oportunidades, que se colocam aos agentes económicos e à sociedade portuguesa atual e futura. Setor Agrícola!
Procuram-se hoje agulhas no meio de um palheiro. Procuram-se soluções, milagrosas, que nos tirem de um estado de asfixia total no qual todos mergulhamos. É neste contexto que está também inserido o sector agrícola e, é nesse sentido que é visto como um autêntico oásis no meio do deserto (se é que me fiz entender).
Fruto do trabalho que tenho realizado neste setor, de norte a sul do país, através da formação e consultoria em empresas a potenciais e a empresários agrícolas, e do que simplesmente fui observando, reuni um conjunto de ideias e experiências que enquanto cidadão interessado e apaixonado pelo setor quero partilhar.
O artigo assentará em 3 eixos:
1.      Contexto atual do setor agrícola;
2.      Investimento e incentivos realizados no setor;
3.     Perspetivas futuras do (re)investimento realizado no presente.

1.º Eixo – Contexto atual do setor agrícola


O
contexto empresarial que se vive atualmente, e num futuro próximo, caracteriza-se por um elevado grau de incerteza. É necessário (re)criar modelos económicos de criação de riqueza e rever, quiçá reconstruir a forma como os agentes económicos (empresas, estado, setor financeiro e outros) se articulam e criam sinergias. Reflexo da incerteza vivida e da desconfiança gerada (outro dos grandes problemas) o nível de investimento é extremamente baixo, isto apesar das baixas históricas taxas de juro indexantes. Bem me podem falar nos spreads praticados pelo setor financeiro. Responderei com o argumento atrás apresentado, Desconfiança! A união europeia e os seus estados membros, verdade seja dita, têm feito algum esforço no sentido de se criarem medidas de apoio ao empreendedorismo e à criação de oportunidades neste setor, mas isso só não chega. Não vou discutir as medidas da PAC e a sua muito discutível justiça de repartição. As notícias que vamos vendo e ouvindo indicam um claro aumento de distribuição de incentivos ao investimento no setor. Da experiência que tive, posso acrescentar que o nível de qualificações dos potenciais empresários ou já empresários agrícolas é bastante elevado (quadros nível V e VI). Estamos perante um janela de oportunidade única. Porquê? Porque este tipo de pessoas e possíveis empreendedores, prefiro chamar assim, possuem conhecimento e capacidade de aprendizagem, argumentos fundamentais para vencer e ultrapassar os desafios. Torna-se fundamental investir e modernizar um setor com níveis de investimento públicos e privados elevados e com níveis de qualificação também eles elevados. Falando-se de um setor tradicionalmente pouco ou nada qualificado, que durante anos foi completamente abandonado (não só o setor mas também as regiões, veja-se o caso das regiões
interiores), então a oportunidade é ainda maior. Calma não é só a oportunidade mas também o desafio. Surge neste contexto uma questão chave.

Agricultura no presente e principalmente que futuro?

Na procura de respostas para esta questão surge o 2.º eixo.

2.º Eixo – Incentivos e/vs Investimentos

Os dados atuais apontam para mais de 280 projetos a serem submetidos diariamente, numa procura incessante aos incentivos do ProDer. Os níveis de execução dos mesmos correm, supostamente, ao mesmo ritmo. Poder-se-ia inferir daqui que agora é esperar, pois tudo parece correr bem.
Uma das primeiras questões que coloco quando converso com potenciais empresários (principalmente estes) é o porquê de quererem investir no setor agrícola. A resposta gira sempre à volta do mesmo. Geração nova, com elevadas qualificações e poucas oportunidades no mercado de trabalho de formação académica, com recursos disponíveis (terra de familiares) procuram “refazer” a vida aproveitando oportunidades. Alguns aparecem dizendo-se cansados da vida profissional que levam e querendo dar novo rumo. Desta forma procuram juntar o útil ao agradável com retorno ao campo. A estes dois motivos junta-se um outro, este de maior relevância: Incentivos à instalação de jovens agricultores e de novos projetos. Assim sendo o risco é muito baixo ou nulo. Perspetiva errada? Diria que existe um enorme custo de oportunidade. Mais vale um par de bons projetos que criem riqueza, emprego e produtos com valor acrescentado que muitos projetos de qualidade duvidosa. Quantidade não é necessariamente qualidade. Daqui surgem duas outras questões:
  •                    Que risco assumem ou estão dispostos a assumir os potenciais empresários? (Não lhes chamo empreendedores, porque não se enquadram na definição de empreendedor. Porquê? Pela capacidade de assumirem riscos próprios).
  •                  Que empresas agrícolas teremos a médio prazo quando os projetos financiados estiverem em velocidade de cruzeiro? (Pergunta para um milhão de euros).

Chamo à atenção de que o setor agrícola tem características que lhe conferem especificidades únicas. É um setor duro, sem horários de trabalho certos, com variáveis que o empresário tem dificuldade em controlar (pragas, intempéries, volatilidade de preços de matérias primas e produtos, etc). Surge também a questão de se pensar a agricultura como uma empresa. Colocar a empresa e não o empresário no centro das atenções. Aqui residem algumas dificuldades a serem bem estudadas para bem de todos. O empresário é apenas uma parte da empresa e não a empresa. O setor agrícola em Portugal caracteriza-se por ser pouco estruturado empresarialmente, com média de idades avançada e com  poucas qualificações. É preciso olhar o setor de forma diferente.
Olhar o setor agrícola de forma empresarial, implica definir estratégias, perceber em que ponto se situam na cadeia de valor (Ver cadeia de valor de Porter, M). Que estratégia de produção, comercial, etc. Que modelo de gestão adotar, que estrutura de empresa adotar ais rígida ou dinâmica. É importante que os potenciais empresários e empreendedores não se esqueçam disto. Não basta “comprar” numa qualquer consultora um projeto agrícola. É preciso colocá-lo em marcha, implementar e executar o programa. É fundamental errar, sim errar e principalmente aprender rápido, porque a colheita é já a seguir. É preciso reinvestir todos os dias, tempo e dinheiro. Dizia-me um já empresário no acerca do negócio agrícola: “…Isto afinal é mais duro que aquilo que eu pensava. Agora, depois da formação, é que deveria iniciar o projeto, pois existem erros de palmatória  no meu projeto…”. Atenção não basta investir. É preciso muito mais que isso. A batata, o vinho, o tomate, a carne de suíno, o leite não aparecem do nada.
Analise-se alguns dados curiosos. Cruze-se o nível de investimento no setor agrícola com o nível de exportação dos produtos agrícolas. Entende-se a timidez dos números. Obviamente que os investimentos realizados trarão resultados não no imediato mas no médio prazo. Sinceramente acredito e tenho expetativa dos resultados serem muito positivos.

3.º - Perspetivas futuras do (re)investimento realizado no presente

O 3.º eixo apresenta uma perspetiva sobre o reinvestimento realizado no presente. É expectável que os projetos apoiados e criados no contexto atual, sejam fatores diferenciadores e criadores de riqueza num futuro tão próximo quanto possível. A riqueza criada advém, obviamente, das vendas dos produtos e não dos incentivos. Devem estes ter um carácter temporário e induzir o particular a realizar investimentos que de outra forma estes não estariam dispostos a realizar e/ou colmatar falhas de mercado existentes. O caminho é por aí. Daí a importância de se definirem adequadas estratégias. Não basta produzir bom vinho, é preciso vendê-lo bem e de forma sustentada. Um fator é crítico deve então merecer toda a atenção: where the action is. Na minha opinião este é, ainda, um ponto fraco do setor. A falta de estratégias comerciais adequadas e arrojadas. É preciso diferenciar-se, mudar de mercados, acrescentar valor ao produto. A batata pode ser igual mas o método de produção, a calibragem, o embalamento o canal de distribuição, o relacionamento com o cliente e o mercado pode ser diferente. Obviamente que para trabalhar mercados externos é fundamental ganhar escala, aqui uma palavra se assume como chave: Parcerias.
Sem o retorno adequado dos investimentos realizados no presente o setor dificilmente conseguirá sobreviver no futuro. Uma outra questão de extrema importância se coloca: Quem vai no futuro financiar o setor? Melhor estará o setor financeiro disposto a financiar com condições competitivas um setor de risco de difícil controlo? Tudo funcionará bem se agora for o erário público a incentivar, mas pressupõem-se que no futuro, em modo velocidade de cruzeiro, seja necessário reinvestir no sector.
1.      A quem caberá esse papel?
2.      E de que forma se irá processar?
Deixo estas duas últimas questões para vossa análise. As vossas opiniões serão bem vindas.

Até breve, bons negócios!  

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