Key Word´s – Agricultura, Investimento, Incentivos e
Futuro.
Caros amigos (as) empresários (as),
O artigo sobre o qual me vou debruçar é
um dos maiores desafios, mas também uma das maiores oportunidades, que se
colocam aos agentes económicos e à sociedade portuguesa atual e futura. Setor Agrícola!
Procuram-se hoje agulhas no meio de um
palheiro. Procuram-se soluções, milagrosas, que nos tirem de um estado de
asfixia total no qual todos mergulhamos. É neste contexto que está também
inserido o sector agrícola e, é nesse sentido que é visto como um autêntico
oásis no meio do deserto (se é que me fiz entender).
Fruto do trabalho que tenho realizado
neste setor, de norte a sul do país, através da formação e consultoria em
empresas a potenciais e a empresários agrícolas, e do que simplesmente fui
observando, reuni um conjunto de ideias e experiências que enquanto cidadão
interessado e apaixonado pelo setor quero partilhar.
O artigo assentará em
3 eixos:
1. Contexto atual do setor
agrícola;
2. Investimento e
incentivos realizados no setor;
3. Perspetivas futuras do
(re)investimento realizado no presente.
1.º Eixo – Contexto atual do setor agrícola
O
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contexto empresarial que se vive atualmente, e num futuro próximo,
caracteriza-se por um elevado grau de incerteza. É necessário (re)criar modelos
económicos de criação de riqueza e rever, quiçá reconstruir a forma como os
agentes económicos (empresas, estado, setor financeiro e outros) se articulam e
criam sinergias. Reflexo da incerteza vivida e da desconfiança gerada (outro
dos grandes problemas) o nível de investimento é extremamente baixo, isto
apesar das baixas históricas taxas de juro indexantes. Bem me podem falar nos spreads praticados pelo setor
financeiro. Responderei com o argumento atrás apresentado, Desconfiança! A
união europeia e os seus estados membros, verdade seja dita, têm feito algum
esforço no sentido de se criarem medidas de apoio ao empreendedorismo e à criação
de oportunidades neste setor, mas isso só não chega. Não vou discutir as
medidas da PAC e a sua muito discutível justiça de repartição. As notícias que
vamos vendo e ouvindo indicam um claro aumento de distribuição de incentivos ao
investimento no setor. Da experiência que tive, posso acrescentar que o nível
de qualificações dos potenciais empresários ou já empresários agrícolas é
bastante elevado (quadros nível V e VI). Estamos perante um janela de
oportunidade única. Porquê? Porque este tipo de pessoas e possíveis empreendedores,
prefiro chamar assim, possuem conhecimento e capacidade de aprendizagem,
argumentos fundamentais para vencer e ultrapassar os desafios. Torna-se fundamental investir e modernizar um setor com níveis
de investimento públicos e privados elevados e com níveis de qualificação
também eles elevados. Falando-se de um setor tradicionalmente pouco ou nada
qualificado, que durante anos foi completamente abandonado (não só o setor mas
também as regiões, veja-se o caso das regiões
Agricultura no presente e principalmente que futuro?
Na procura
de respostas para esta questão surge o 2.º eixo.
2.º Eixo –
Incentivos e/vs Investimentos
Os dados atuais apontam para mais de 280 projetos a serem submetidos
diariamente, numa procura incessante aos incentivos do ProDer. Os níveis de
execução dos mesmos correm, supostamente, ao mesmo ritmo. Poder-se-ia inferir
daqui que agora é esperar, pois tudo parece correr bem.
Uma das primeiras questões que
coloco quando converso com potenciais empresários (principalmente estes) é o
porquê de quererem investir no setor agrícola. A resposta gira sempre à volta
do mesmo. Geração nova, com elevadas qualificações e poucas oportunidades no
mercado de trabalho de formação académica, com recursos disponíveis (terra de
familiares) procuram “refazer” a vida aproveitando oportunidades. Alguns
aparecem dizendo-se cansados da vida profissional que levam e querendo dar novo
rumo. Desta forma procuram juntar o útil ao agradável com retorno ao campo. A
estes dois motivos junta-se um outro, este de maior relevância: Incentivos à instalação de jovens agricultores e de novos projetos. Assim
sendo o risco é muito baixo ou nulo. Perspetiva errada? Diria que existe um enorme
custo de oportunidade. Mais vale um par de bons projetos que
criem riqueza, emprego e produtos com valor acrescentado que muitos projetos de
qualidade duvidosa. Quantidade não é necessariamente qualidade. Daqui surgem duas outras
questões:
- Que risco assumem ou estão dispostos a assumir os potenciais empresários? (Não lhes chamo empreendedores, porque não se enquadram na definição de empreendedor. Porquê? Pela capacidade de assumirem riscos próprios).
- Que empresas agrícolas teremos a médio prazo quando os projetos financiados estiverem em velocidade de cruzeiro? (Pergunta para um milhão de euros).
Chamo à atenção de que o setor agrícola tem
características que lhe conferem especificidades únicas. É um setor duro, sem
horários de trabalho certos, com variáveis que o empresário tem dificuldade em
controlar (pragas, intempéries, volatilidade de preços de matérias primas e
produtos, etc). Surge também a questão de se pensar a agricultura como uma
empresa. Colocar a empresa e não o
empresário no centro das atenções. Aqui residem algumas dificuldades a
serem bem estudadas para bem de todos. O
empresário é apenas uma parte da empresa e não a empresa. O setor agrícola
em Portugal caracteriza-se por ser pouco estruturado empresarialmente, com
média de idades avançada e com poucas
qualificações. É preciso olhar o setor de forma diferente.
Olhar o setor agrícola de forma empresarial, implica definir estratégias,
perceber em que ponto se situam na cadeia de valor (Ver cadeia de valor de
Porter, M). Que estratégia de produção, comercial, etc. Que modelo de gestão
adotar, que estrutura de empresa adotar ais rígida ou dinâmica. É importante que os potenciais empresários e
empreendedores não se esqueçam disto. Não basta “comprar” numa qualquer
consultora um projeto agrícola. É preciso colocá-lo em marcha, implementar e
executar o programa. É fundamental errar, sim errar e principalmente aprender
rápido, porque a colheita é já a seguir. É preciso reinvestir todos os dias,
tempo e dinheiro. Dizia-me um já empresário no acerca do negócio agrícola: “…Isto afinal é mais duro que aquilo que eu
pensava. Agora, depois da formação, é que deveria iniciar o projeto, pois
existem erros de palmatória no meu projeto…”. Atenção não basta investir. É preciso muito mais que isso. A batata, o vinho, o tomate, a carne de
suíno, o leite não aparecem do nada.
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3.º - Perspetivas futuras do (re)investimento realizado no presente
O 3.º eixo apresenta uma perspetiva sobre
o reinvestimento realizado no presente. É expectável que os projetos apoiados e
criados no contexto atual, sejam fatores diferenciadores e criadores de riqueza
num futuro tão próximo quanto possível. A riqueza criada advém, obviamente, das
vendas dos produtos e não dos incentivos. Devem estes ter um carácter
temporário e induzir o particular a realizar investimentos que de outra forma
estes não estariam dispostos a realizar e/ou colmatar falhas de mercado
existentes. O caminho é por aí. Daí a importância de se definirem adequadas
estratégias. Não basta produzir bom vinho, é preciso vendê-lo bem e de forma
sustentada. Um fator é crítico deve então merecer toda a atenção: where the action is. Na minha opinião
este é, ainda, um ponto fraco do setor. A falta de estratégias comerciais
adequadas e arrojadas. É preciso diferenciar-se, mudar de mercados, acrescentar
valor ao produto. A batata pode ser igual mas o método de produção, a
calibragem, o embalamento o canal de distribuição, o relacionamento com o
cliente e o mercado pode ser diferente. Obviamente que para trabalhar mercados
externos é fundamental ganhar escala, aqui uma palavra se assume como chave: Parcerias.
Sem o retorno adequado dos investimentos
realizados no presente o setor dificilmente conseguirá sobreviver no futuro.
Uma outra questão de extrema importância se coloca: Quem vai no futuro financiar o setor? Melhor estará o setor
financeiro disposto a financiar com condições competitivas um setor de risco de
difícil controlo? Tudo funcionará bem se agora for o erário público a
incentivar, mas pressupõem-se que no futuro, em modo velocidade de cruzeiro,
seja necessário reinvestir no sector.
1.
A quem caberá esse papel?
2.
E de que forma se irá processar?
Deixo estas duas últimas questões para
vossa análise. As vossas opiniões serão bem vindas.
Até breve, bons negócios!
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