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domingo, 17 de fevereiro de 2013

Reestruturação de empresas – A espiral de endividamento 

É bom que as pessoas de uma nação não entendam o sistema bancário e monetário, caso contrário, acredito que uma revolução aconteceria amanhã mesmo – Henry Ford

Key word´s – Mudança, Financiamento, Liquidez, Endividamento, Reestruturação, Rácios

Caros amigos (as) empresários (as),

O artigo sobre o qual me vou debruçar é um dos maiores, senão o maior problema, das empresas (e não só) na actualidade,  o financiamento da actividade operacional.

O
contexto empresarial que vivemos tem como característica recente mais visível a mudança. A última década e em especial os últimos 5 anos foram de grande alteração em diversos sentidos.
Alterou-se o tecido empresarial, o espaço de actuação das empresas, os players, os mercados, as redes de negócio, as politicas fiscais, as politicas económicas, as condições de acesso ao financiamento e muitos outros aspectos. Dizer, de todos, qual o mais relevante e qual aquele que mais contribuiu ou acelerou a mudança é  um exercício de  pura especulação, pois todos eles se interligam e é extremamente difícil perceber qual precedeu qual. Uma coisa sabemos, o contexto mudou radicalmente. O aparecimento de novos mercados e economias emergentes aguçou o apetite de muitas empresas e levou tantas outras ao desespero e até ao desaparecimento, normal é a lei da vida em que só os mais capazes sobrevivem, melhor diria os mais apetrechados e que antecipadamente se muniram de forças suficientes. Para o tema em discussão centremo-nos noutras questões. Durante muito tempo as empresas viveram, permitam-me a dureza, na ilusão de que as empresas se financiavam com o crédito que “facilmente” lhes era concedido. Certo ou errado? O mais importante é que as empresas se centrem no futuro e, pelo menos aprendam com os erros do passado. Pela experiência que fui adquirindo e pelos casos que fui analisando existe claramente um conjunto de problemas das decisões empresariais tomadas na última década e que hoje representam um grande problema e um grande desafio para as empresas. 
Qualquer empresa é certo e sabido que necessita de crédito. Esse crédito serve para financiar quer os seus investimentos que a sua actividade operacional (funcionamento da empresa no dia a dia). Comecemos pela definição de crédito: Crédito provém do latim creditum, que significa…confiança, ou segurança em alguma coisa, é uma promessa de pagamento futuro. Interessante não?! Santos (2003, p. 15), defini-o como “a modalidade de financiamento destinada a possibilitar a realização de transações comerciais entre empresas e a sua envolvente. Até aqui nada de novo. Acrescentaria algo fundamental a esta definição. O retorno. Porquê? Pelo simples facto de ser este retorno a permitir que o crédito concedido seja pago. O principio base dos economistas é provavelmente das maiores verdades que o universo conhece, não há almoços grátis. 
Se nos focarmos no mercado português e olharmos a última década vamos perceber algumas questões que inúmeras vezes parecem de difícil resposta. Ao analisar a evolução dos crédito concedido às empresas nos últimos 10 anos percebemos claramente a dependência das empresas face ao crédito.
A análise não permite inferir sobre o tipo de crédito concedido (ao investimento ou ao financiamento), no entanto é no crédito ao funcionamento que nos iremos centrar. Seria de todo interessante cruzar este gráfico com a evolução da produção e das vendas e da riqueza criada, embora não seja preciso ser mágico nem iluminado para perceber o resultado final. Basta olhar para a evolução do crédito raciocinar um pouco e concluiremos que pós 2008 a diminuição do crédito teve impacto directo na criação de riqueza e vice versa. É sabido que qualquer investidor, banca ou outro agente em situações de desconfiança se retrai, atente-se à definição de crédito.
Analisando as Demonstrações Financeiras de empresas, para melhor perceber a sua evolução (aconselha-se a leitura do balanço. É a DF que melhor relata esse facto, pois dá em cada momento a posição financeira da empresa), vê-se de forma objectiva uma linha paralela à do crédito concedido pela banca. Quer isto dizer que a dependência das empresas face ao crédito foi durante muito tempo, tempo demais, muito elevada. Quando separado o crédito de curto prazo (Passivos correntes) e o crédito de Médio e Longo Prazo (Passivo não Corrente), percebemos também uma clara tendência para o crédito de curto prazo. Ai reside um dos grandes problemas. Seria de todo interessante analisar também a evolução dos capitais próprios (residual de interesse dos sócios e ou acionistas) no mesmo período. Que acham que aconteceu?
O crédito de curto prazo, ou crédito ao funcionamento tem algumas especificidades que devem ser bem entendidas e analisadas e que, fruto de diversas situações, não o foram durante muito tempo.  Viveu-se na ilusão durante tempo demais que o crescimento e a criação de riqueza se baseava na concessão de crédito. Isto até poderia ser verdade, no caso do crédito bem investido e que gerou retorno, o que de todo não foi o que aconteceu. Por regra o financiamento das empresas assenta em dois pilares base:

 1 – Capacidade das empresas gerarem Cash Flow´s (Influxos e exfluxos de dinheiro);

 2 – Risco associado à empresa e ao negócio ( envolvente interna e externa da empresa);

Durante muito tempo assobiou-se para o lado e partiu-se do pressuposto que o risco era….nulo ou melhor mínimo. Ainda por cima quando tínhamos estados e governos a dar autênticos avais à banca para concederam crédito. Aliado a esta questão tinha-se a entrada de milhões de euros vindos da EU. Esquecemo-nos apenas de uma coisa, simples por acaso. Levantar a cabeça, raciocinar um pouco e olhar para o futuro. Bem sei que é fácil a minha posição, a escrever o artigo leia-se, mas era de todo previsível um desfecho pelo menos próximo deste. Porquê? A dada altura as empresas deixaram de gerar cash flow´s capazes de fazer face ao crédito concedido. Acresce a diminuição da procura e por conseguinte a quebra das vendas. Soma-se ainda o facto de até à muito pouco tempo Portugal ser um país claramente de produção e consumo interno, adiciona-se a tudo isto o tempo de reação as empresas, extremamente baixo. O peso do crédito ao funcionamento tornou-se insustentável. Contas correntes caucionadas no máximo (como é possível empresas a gerar cash flow´s mensais de 200.000€ e ter CCC negociadas no valor de 600.000€ (ver natureza deste tipo de financiamento). Não tem nada a ver com ciclos de produção ou financiamento do ciclo de exploração, foi mesmo crédito mal concedido). Os descobertos bancários, as letras (que grande problema), etc. Não se esqueçam acresce que a estes montantes temos o crédito concedido por fornecedores (Ex: 100.000€). Temos de crédito concedido 700.000€ (600.000€ banca + 100.000€ de fornecedores), capacidade de gerar fluxos mensais 200.000€ O resto do calculo fica por vossa conta. Olhemos agora a outra parte do balanço, ou seja onde está o crédito concedido. Como o acesso ao crédito estava facilitado e até era barato, tudo ou quase tudo era permitido. Da mesma forma se concedia crédito a clientes e se “dotava” a empresa de grandes quantidades de stock´s. Ora isto equilibrava a balança, supostamente a capacidade de honrar os compromissos estava assegurada. De quando em vez como forma de garantia ou de antecipar fundos de tesouraria sacava-se umas letras e descontava-se (a responsabilidade em 99% dos casos está do lado do sacador), mais um problema. Se todos honrassem os seus compromissos tudo correria bem e assim estaria assegurado o fundo de maneio necessário e o equilíbrio financeiro da empresa a custos bastante interessantes. Mais que crédito barato interessa o crédito necessário à estrutura da empresa. Se não funcionar então deve haver uma análise cuidada pois algo está mal se a empresa apenas sobrevive com crédito e financiamento externo e não consegue ela própria gerar fluxos suficientes.
O problema é que a máquina deixou de funcionar como um relógio suíço. Consequência? As empresas muito rapidamente deixaram de poder honrar os seus compromissos, fruto da retração do mercado e da quebra de vendas interna. Não estavam preparadas para trabalhar e conquistar mercados externos e tinham agora um problema maior. Empresa completamente endividada e com os credores abater à porta a exigir os seus créditos----no curto prazo tal como estava negociado. Consequência imediata, aumento desproporcional do preço do financiamento, logo aumento dos custos financeiros. Clientes começam a não honrar compromissos, empresas diminuem drasticamente a capacidade de gerar fluxos e têm necessidade de reconhecer imparidades pelas dívidas e pelo crédito concedido a clientes. Letras aceites e descontadas não são pagas, empresa sacadora “obrigada” a assumir responsabilidades, empresas sem capacidade para aceder a crédito (como dizia um empresário, estou a morrer à sede com água pelos joelhos, referindo-se às encomendas que tinha em carteira e à falta de crédito para comprar matérias primas). Conclusão uma enorme bola de neve e rapidamente temos empresas completamente descapitalizadas. Solução?! Tudo menos ficar parado, mas foi isso que em muitos casos aconteceu. Deveria “obrigatoriamente” ter sido feita uma reestruturação do tecido empresarial e dos seus agentes onde intervêm 3 eixos: Empresas, Banca, e Estado. Nada disto foi feito e a pressão sobre as empresas e sobre a sua tesouraria foi-se agravando. Solução encontrada, dentro do possível, espiral de crédito. Ou seja recorrer a crédito para honrar outros compromissos assumidos, mas meus amigos esqueceram-se de algo. As empresas continuavam a não gerar cash flow´s capazes de fazer face ao nível de crédito assumido e, em muitos casos isso ainda agravou a situação. Bem se sabe que no limite o risco é….zero mas…
Chegados a 2013 temos empresas completamente presas a crédito ao funcionamento. É fundamental que os 3 eixos principais (empresas, banca e estado) se articulem. É imperial a reestruturação das empresas e no fim todos sairão a ganhar. E principalmente que a lição não se repita. Inúmeras vezes tenho divergências de opinião com empresários pois sou muito cauteloso em relação ao crédito ao funcionamento das empresas. Tal só faz sentido quando bem estudado, enquadrado e bem, muito bem equilibrado. A questão que muitas vezes ouço é: Marco esta é a solução, é preciso crédito para andarmos para a frente. Não partilho desta opinião. Temos empresas com interessantes margens de exploração que acabam por ser “comidas” pelos custos financeiros. Prefiro dar essa margem aos clientes em troca de um bom PMR. Difícil sim muito, impossível? Não.
Com esta margem tenho logo dois efeitos positivos: Cash flow´s mais elevados e créditos a cliente menores e por conseguinte rotactividade de activos, sim porque vender sem receber até pode ter dar boa rotactividade, mas dará fracos cash flow´s.   
É urgentíssimo a reestruturação das empresas de baixo porte.
Existem um conjunto de indicadores financeiros chave para analisarem e perceberem no curto prazo e de forma simples a vossa empresa. 

·         PMR – Indica em dias, meses ou anos o tempo médio que os clientes levam a pagar as suas dívidas;

·   PMP – Indica em dias, meses ou anos o tempo médio que a empresa leva a pagar as suas dívidas a fornecedores (importante destrinçar o tipo de fornecedores capital ou matérias);

·       Liquidez Geral. Reduzida e Imediata;

·      NFM – Necessidade da empresa num período de tempo definido. Deve ter em conta o ciclo de produção e/ou de exploração. Fundamental para o equilíbrio financeiro da empresa;

·       Autonomia Financeira – Capital Próprio/Activo - > Activos financiados pelo capital próprio;

Solvabilidade – Capital Próprio/Passivos Total - > Capacidade de a empresa honrar os seus compromissos 

Nota: Atente-se às correções necessárias para calculo dos indicadores apresentados.

Conclusão:

De forma simples e se a empresa tem peso relevante sobre a tesouraria no curto prazo e antes de qualquer negociação necessária com a banca é fundamental que:
1.      Análise completa e verdadeira sobre a estrutura financeira da empresa no curto, no médio e no longo prazo.

1.1.   Compromissos a honrar no curto prazo
1.2.   Compromissos a honrar no médio e longo prazo
1.3.   Estrutura de cash flow´s previsional (tem em conta vendas, gastos e os  PMR e PMP). É extremamente difícil no contexto actual mexer nos PMR´s. O dilema é muitas vezes vender e correr o risco de incumprimento ou não vender e ter a empresa…parada.


 


Elaboração de um plano financeiro e de um orçamento financeiro

1.4.   Elaborar um plano de reestruturação e apresenta-lo junto da banca. Fundamental saber e prever bem os cash flow´s da empresa para saber que compromissos pode honrar.
1.5.   Rigor, disciplina

Atenção – Crédito sim, mas não de qualquer forma e a qualquer preço.

Lembre-se - > O equilíbrio financeiro da empresa depende das decisões de hoje.

Bons negócios!






1 comentário:

  1. Excelente artigo. Parabéns. Muitas empresas deveriam lê-lo. Por outro lado, a inovação não tem de ser cara. Existem ferramentas como o Gestobrig, uma aplicação para Gabinetes de Contabilidade com um baixo preço, contudo poderosa na gestão de Obrigações Fiscais. Ver como funciona: http://bit.ly/gestao-obrigacoes-fiscais2

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