Reestruturação
de empresas – A espiral de endividamento
É
bom que as pessoas de uma nação não entendam o sistema bancário e monetário, caso
contrário, acredito que uma revolução aconteceria amanhã mesmo –
Henry Ford
Key word´s – Mudança,
Financiamento, Liquidez, Endividamento, Reestruturação, Rácios
Caros amigos (as)
empresários (as),
O artigo sobre o qual
me vou debruçar é um dos maiores, senão o maior problema, das empresas (e não
só) na actualidade, o financiamento da
actividade operacional.
O
|
contexto
empresarial que vivemos tem como característica recente mais visível a mudança.
A última década e em especial os últimos 5 anos foram de grande alteração em
diversos sentidos.
Alterou-se
o tecido empresarial, o espaço de actuação das empresas, os players, os mercados, as redes de
negócio, as politicas fiscais, as politicas económicas, as condições de acesso
ao financiamento e muitos outros aspectos. Dizer, de todos, qual o mais relevante
e qual aquele que mais contribuiu ou acelerou a mudança é um exercício de pura especulação, pois todos eles se interligam
e é extremamente difícil perceber qual precedeu qual. Uma coisa sabemos, o
contexto mudou radicalmente. O aparecimento de novos mercados e economias
emergentes aguçou o apetite de muitas empresas e levou tantas outras ao
desespero e até ao desaparecimento, normal é a lei da vida em que só os mais
capazes sobrevivem, melhor diria os mais apetrechados e que antecipadamente se
muniram de forças suficientes. Para o tema em discussão centremo-nos noutras
questões. Durante muito tempo as empresas viveram, permitam-me a dureza, na
ilusão de que as empresas se financiavam com o crédito que “facilmente” lhes
era concedido. Certo ou errado? O mais importante é que as empresas se centrem
no futuro e, pelo menos aprendam com os erros do passado. Pela experiência que
fui adquirindo e pelos casos que fui analisando existe claramente um conjunto
de problemas das decisões empresariais tomadas na última década e que hoje
representam um grande problema e um grande desafio para as empresas.
Qualquer
empresa é certo e sabido que necessita de crédito. Esse crédito serve para
financiar quer os seus investimentos que a sua actividade operacional
(funcionamento da empresa no dia a dia). Comecemos pela definição de crédito: Crédito provém do latim creditum, que significa…confiança, ou
segurança em alguma coisa, é uma promessa de pagamento futuro. Interessante
não?! Santos (2003, p. 15),
defini-o como “a modalidade de financiamento
destinada a possibilitar a realização de transações comerciais entre empresas e a sua envolvente. Até aqui nada de novo. Acrescentaria algo fundamental a esta definição.
O retorno. Porquê? Pelo simples facto de ser este retorno a permitir que o
crédito concedido seja pago. O principio base dos economistas é provavelmente
das maiores verdades que o universo conhece, não há almoços grátis.
Se nos
focarmos no mercado português e olharmos a última década vamos perceber algumas
questões que inúmeras vezes parecem de difícil resposta. Ao analisar a evolução
dos crédito concedido às empresas nos últimos 10 anos percebemos claramente a
dependência das empresas face ao crédito.
A
análise não permite inferir sobre o tipo de crédito concedido (ao investimento
ou ao financiamento), no entanto é no crédito ao funcionamento que nos iremos
centrar. Seria de todo interessante cruzar este gráfico com a evolução da
produção e das vendas e da riqueza criada, embora não seja preciso ser mágico
nem iluminado para perceber o resultado final. Basta olhar para a evolução do
crédito raciocinar um pouco e concluiremos que pós 2008 a diminuição do crédito
teve impacto directo na criação de riqueza e vice versa. É sabido que qualquer
investidor, banca ou outro agente em situações de desconfiança se retrai,
atente-se à definição de crédito.
Analisando
as Demonstrações Financeiras de empresas, para melhor perceber a sua evolução (aconselha-se
a leitura do balanço. É a DF que melhor relata esse facto, pois dá em cada
momento a posição financeira da empresa), vê-se de forma objectiva uma linha paralela
à do crédito concedido pela banca. Quer isto dizer que a dependência das
empresas face ao crédito foi durante muito tempo, tempo demais, muito elevada.
Quando separado o crédito de curto prazo (Passivos correntes) e o crédito de Médio
e Longo Prazo (Passivo não Corrente), percebemos também uma clara tendência para
o crédito de curto prazo. Ai reside um dos grandes problemas. Seria de todo
interessante analisar também a evolução dos capitais próprios (residual de
interesse dos sócios e ou acionistas) no mesmo período. Que acham que
aconteceu?
O
crédito de curto prazo, ou crédito ao funcionamento tem algumas especificidades
que devem ser bem entendidas e analisadas e que, fruto de diversas situações,
não o foram durante muito tempo. Viveu-se
na ilusão durante tempo demais que o crescimento e a criação de riqueza se
baseava na concessão de crédito. Isto até poderia ser verdade, no caso do
crédito bem investido e que gerou retorno, o que de todo não foi o que
aconteceu. Por regra o financiamento das empresas assenta em dois pilares base:
1 – Capacidade das empresas gerarem Cash Flow´s (Influxos e exfluxos de
dinheiro);
2 – Risco associado à empresa e ao negócio (
envolvente interna e externa da empresa);
Durante
muito tempo assobiou-se para o lado e partiu-se do pressuposto que o risco era….nulo
ou melhor mínimo. Ainda por cima quando tínhamos estados e governos a dar autênticos
avais à banca para concederam crédito. Aliado a esta questão tinha-se a entrada
de milhões de euros vindos da EU. Esquecemo-nos apenas de uma coisa, simples
por acaso. Levantar a cabeça, raciocinar um pouco e olhar para o futuro. Bem
sei que é fácil a minha posição, a escrever o artigo leia-se, mas era de todo previsível
um desfecho pelo menos próximo deste. Porquê? A dada altura as empresas deixaram de gerar cash flow´s capazes de fazer face ao crédito concedido. Acresce a
diminuição da procura e por conseguinte a quebra das vendas. Soma-se ainda o
facto de até à muito pouco tempo Portugal ser um país claramente de produção e
consumo interno, adiciona-se a tudo isto o tempo de reação as empresas,
extremamente baixo. O peso do crédito ao funcionamento tornou-se
insustentável. Contas correntes caucionadas no máximo (como é possível empresas
a gerar cash flow´s mensais de 200.000€
e ter CCC negociadas no valor de 600.000€ (ver natureza deste tipo de
financiamento). Não tem nada a ver com ciclos de produção ou financiamento do
ciclo de exploração, foi mesmo crédito mal concedido). Os descobertos
bancários, as letras (que grande problema), etc. Não se esqueçam acresce que a
estes montantes temos o crédito concedido por fornecedores (Ex: 100.000€).
Temos de crédito concedido 700.000€ (600.000€ banca + 100.000€ de
fornecedores), capacidade de gerar fluxos mensais 200.000€ O resto do calculo
fica por vossa conta. Olhemos agora a outra parte do balanço, ou seja onde está
o crédito concedido. Como o acesso ao crédito estava facilitado e até era
barato, tudo ou quase tudo era permitido. Da mesma forma se concedia crédito a clientes
e se “dotava” a empresa de grandes quantidades de stock´s. Ora isto equilibrava
a balança, supostamente a capacidade
de honrar os compromissos estava assegurada. De quando em vez como forma de
garantia ou de antecipar fundos de tesouraria sacava-se umas letras e
descontava-se (a responsabilidade em 99% dos casos está do lado do sacador),
mais um problema. Se todos honrassem os seus compromissos tudo correria bem e
assim estaria assegurado o fundo de maneio necessário e o equilíbrio financeiro
da empresa a custos bastante interessantes. Mais que crédito barato interessa o crédito necessário à estrutura da
empresa. Se não funcionar então deve haver uma análise cuidada pois algo
está mal se a empresa apenas sobrevive com crédito e financiamento externo e
não consegue ela própria gerar fluxos suficientes.
O
problema é que a máquina deixou de funcionar como um relógio suíço.
Consequência? As empresas muito rapidamente deixaram de poder honrar os seus
compromissos, fruto da retração do mercado e da quebra de vendas interna. Não
estavam preparadas para trabalhar e conquistar mercados externos e tinham agora
um problema maior. Empresa completamente endividada e com os credores abater à
porta a exigir os seus créditos----no curto prazo tal como estava negociado. Consequência
imediata, aumento desproporcional do preço do financiamento, logo aumento dos
custos financeiros. Clientes começam a não honrar compromissos, empresas
diminuem drasticamente a capacidade de gerar fluxos e têm necessidade de
reconhecer imparidades pelas dívidas e pelo crédito concedido a clientes.
Letras aceites e descontadas não são pagas, empresa sacadora “obrigada” a
assumir responsabilidades, empresas sem capacidade para aceder a crédito (como
dizia um empresário, estou a morrer à sede com água pelos joelhos, referindo-se
às encomendas que tinha em carteira e à falta de crédito para comprar matérias
primas). Conclusão uma enorme bola de neve e rapidamente temos empresas
completamente descapitalizadas. Solução?! Tudo menos ficar parado, mas foi isso
que em muitos casos aconteceu. Deveria “obrigatoriamente” ter sido feita uma
reestruturação do tecido empresarial e dos seus agentes onde intervêm 3 eixos:
Empresas, Banca, e Estado. Nada disto foi feito e a pressão sobre as empresas e
sobre a sua tesouraria foi-se agravando. Solução encontrada, dentro do
possível, espiral de crédito. Ou seja recorrer a crédito para honrar outros
compromissos assumidos, mas meus amigos esqueceram-se de algo. As empresas
continuavam a não gerar cash flow´s
capazes de fazer face ao nível de crédito assumido e, em muitos casos isso
ainda agravou a situação. Bem se sabe que no limite o risco é….zero mas…
Chegados
a 2013 temos empresas completamente presas a crédito ao funcionamento. É
fundamental que os 3 eixos principais (empresas, banca e estado) se articulem.
É imperial a reestruturação das empresas e no fim todos sairão a ganhar. E
principalmente que a lição não se repita. Inúmeras vezes tenho divergências de
opinião com empresários pois sou muito cauteloso em relação ao crédito ao
funcionamento das empresas. Tal só faz sentido quando bem estudado, enquadrado
e bem, muito bem equilibrado. A questão que muitas vezes ouço é: Marco esta é a
solução, é preciso crédito para andarmos para a frente. Não partilho desta
opinião. Temos empresas com interessantes margens de exploração que acabam por
ser “comidas” pelos custos financeiros. Prefiro dar essa margem aos clientes em
troca de um bom PMR. Difícil sim muito, impossível? Não.
Com
esta margem tenho logo dois efeitos positivos: Cash flow´s mais elevados e créditos a cliente menores e por
conseguinte rotactividade de activos, sim porque vender sem receber até pode
ter dar boa rotactividade, mas dará fracos cash
flow´s.
É
urgentíssimo a reestruturação das empresas de baixo porte.
Existem
um conjunto de indicadores financeiros chave para analisarem e perceberem no
curto prazo e de forma simples a vossa empresa.
·
PMR
– Indica em dias, meses ou anos o tempo médio que os clientes levam a pagar as
suas dívidas;
·
PMP
– Indica em dias, meses ou anos o tempo
médio que a empresa leva a pagar as suas dívidas a fornecedores (importante
destrinçar o tipo de fornecedores capital ou matérias);
· Liquidez
Geral. Reduzida e Imediata;
· NFM
– Necessidade da empresa num período
de tempo definido. Deve ter em conta o ciclo de produção e/ou de exploração.
Fundamental para o equilíbrio financeiro da empresa;
·
Autonomia
Financeira – Capital Próprio/Activo
- > Activos financiados pelo capital próprio;
Solvabilidade
– Capital Próprio/Passivos Total - > Capacidade de a empresa honrar os seus
compromissos
Nota:
Atente-se às correções necessárias para calculo dos indicadores apresentados.
Conclusão:
De forma simples e se a
empresa tem peso relevante sobre a tesouraria no curto prazo e antes de
qualquer negociação necessária com a banca é fundamental que:
1. Análise
completa e verdadeira sobre a estrutura financeira da empresa no curto, no
médio e no longo prazo.
1.1. Compromissos
a honrar no curto prazo
1.2. Compromissos
a honrar no médio e longo prazo
1.3. Estrutura
de cash flow´s previsional (tem em
conta vendas, gastos e os PMR e PMP). É
extremamente difícil no contexto actual mexer nos PMR´s. O dilema é muitas
vezes vender e correr o risco de incumprimento ou não vender e ter a empresa…parada.
Elaboração de um plano financeiro e de um orçamento financeiro
1.4. Elaborar
um plano de reestruturação e apresenta-lo junto da banca. Fundamental saber e
prever bem os cash flow´s da empresa
para saber que compromissos pode honrar.
1.5. Rigor,
disciplina
Atenção – Crédito
sim, mas não de qualquer forma e a qualquer preço.
Lembre-se
- > O equilíbrio financeiro da empresa depende das decisões de hoje.
Bons
negócios!
Excelente artigo. Parabéns. Muitas empresas deveriam lê-lo. Por outro lado, a inovação não tem de ser cara. Existem ferramentas como o Gestobrig, uma aplicação para Gabinetes de Contabilidade com um baixo preço, contudo poderosa na gestão de Obrigações Fiscais. Ver como funciona: http://bit.ly/gestao-obrigacoes-fiscais2
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