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terça-feira, 24 de abril de 2012

Crise, Empresas e Custos Financeiros

Crise e Empresas são palavras que andam na ordem do dia. As estas duas palavras eu acrescentaria mais uma...Custos Financeiros.
No trabalho que desenvolvo na área financeira junto de empresas constatei algumas variáveis chave que se alteraram e para as quais as empresas devem ter soluções práticas e objectivas.
É sabida e a dificuldade que as empresas têm no acesso ao crédito, quer de curto quer de longo prazo, quer para financiar a sua actividade operacional quer os seus investimentos. A banca enquanto maior financiador das empresas viu-se nos últimos anos, por razões diversas, envolvida numa autentica espiral de falta de cumprimento das obrigações quer dos particulares quer empresas. Centre-mo-nos nas segundas, são essas a verdadeira razão deste artigo. Ao longo da última década, ou pouco antes até, as empresas portuguesas tiveram capacidade de acesso a crédito fácil, ou melhor, muito fácil. O nível de endividamento a que muitas empresas se sujeitaram foi visivelmente elevado e perceptível, e digo isto porque todos, incluindo banca sabiam o que se passava e que isso se poderia a médio prazo tornar-se numa bomba que a qualquer altura poderia explodir nas mãos de qualquer um (leia-se empresas, banca, governos, banco Portugal), sendo que os estilhaços atingiriam certamente todos estes agentes. Acrescido disto grande parte do crédito contraído pela empresas tem maturidade de curto prazo. É neste crédito que nos centraremos, pois o de médio e longo prazo tem uma natureza e um peso completamente diferente, nomeadamente as linhas PME cuja garantia é dada por sociedades de garantia mútua. As contas correntes caucionadas foram, e são, uma fonte de financiamento privilegiada para bancos e empresas. Se por um lado as empresas acediam a crédito rápido e fácil, por outro a banca concedia crédito cujo custo era de todo interessante, acresce ainda um outro facto, os governos não tinham influência directa sobre este tipo de crédito, ou pelo menos não tanta quanto nas linhas PME. Se durante aproximadamente 10 anos as empresas de uma forma ou outra foram cumprindo e honrando os seus compromissos, a partir de certa altura o contexto e as variáveis alteraram-se completamente, nomeadamente a partir da crise do sub prime e da despoletada crise financeira gerada no inicio de 2007. Pois a partir dai as variáveis alteraram-se e os intervenientes começaram a medir e a perceber o risco de uma outra forma, consequência?! Baixa nas taxas de juro indexantes e uma escalada incessante de spreads. Tudo isto se resolveria não fosse o emergir de uma crise onde quase todos, ou todos mergulhamos, sendo que as empresas foram rapidamente atingidas. Lembre-mo-nos dos anúncios de acesso a crédito com spreads a rondar ou mesmo nulos. Como diria alguém....ò tempo volta para trás.
Com vendas a caírem a ritmos elevados e bastante acelerados, uma das primeiras reacções das empresas foi reduzir margens operacionais (Vendas - Custos fixos + Custos Variáveis). Além das vendas também os fluxos financeiros (entradas e saídas de dinheiro) diminuíram rapidamente e drasticamente, deixando as empresas completamente....coxas. E agora como honrar compromissos? O acesso ao crédito era agora, mais que nunca necessário e primordial. No entanto fruto do incumprimento que foi aparecendo e do risco natural que foi aumentando a banca numa boa lógica financeira aumentou e foi aumentando os custos financeiros para concessão de crédito e/ou renovação dos montantes já negociados, pois também estes viram dificultado o seu acesso a crédito a fontes externas, sim porque internamente a fonte está seca (não há poupança quer de particulares quer de empresas, também não vejo medidas que possam inverter isso mas...). O cerco começava-se a apertar para todos, principalmente para as empresas, cujos desafios são agora, mais que nunca dificílimos de ultrapassar. Como a bela história não acaba aqui algumas instituições financeiras "convidaram" as empresas a simplesmente não renovar ou liquidar os montantes das contas correntes caucionadas negociados. Ora é aqui que está o ónus da questão. Mais que nunca as empresas precisam de acesso a crédito, mas precisam também aquilo que nunca lhes foi dado ou transmitido, cultura financeira. Por todas empresas onde passo ou passei noto uma tremenda falta de cultura financeira por parte  de gestores das empresas. Não é possível gerir uma empresa na óptica de não ser preciso saber qual o custo de capital de um determinado financiamento. É imperial  que as empresas e os seus quadros financeiros percebam em cada momento e de forma fidedigna qual os custos financeiros, o seu peso e o seu impacto nos resultados na empresa. Algumas empresas que analisei apesar de gerarem EBIT e EBITDA positivo, todo esse resultado gerado é de seguida absorvido pelos custos financeiros que a empresa suporta. Um outro factor negativo foi a falta de atitude e de decisão das empresas face ao aumento do custo de financiamento, argumentando-se em muitos casos que o mais importante no contexto actual é acesso a financiamento deixando-se em segunda linha o seu custo. discordo veemente, é importante, fundamental que as empresas e os empresários esbocem reacção ao aumento dos custos. a desculpa que a culpa é dos mercados é em meu entender uma "treta". É importante que as empresas comecem já a preparar  o seu futuro. A competitividade começa no acesso e na negociação nas fontes de financiamento. Deparei me outro dia com uma situação um pouco caricata, um empresário de muito bom porte e com capacidades excepcionais ficou espantado quando depois de me solicitar um análise às contas lhe apresentei os custos financeiros reais suportados pela empresa durante um trimestre e quando comparados com o período homólogo. Urge medidas que minimizem os impactos da situação actual, soluções adequadas ao contexto. As instituições financeiras, e bem, preconizaram um conjunto de medidas, bem fizeram ao olhar pela sua vida. Também os empresários devem olhar bem a sua empresa e desenvolver um conjunto de medidas capazes de reduzir e consolidar financiamentos, sob pena de hipotecarmos o futuro de muitas empresas, pois estas correm o risco de nos próximos anos, 10 ou 15 anos andarem só a trabalhar para pagar financiamento e custo de financiamentos contraídos. É importante também que a nível governamental alguém com mínimo de decência olhe o problema, perceba a realidade dos factos e tome decisões condizentes com a realidade actual.
Um bom ponto de partida para as empresas será:

  1. Junto das instituições perceber bem qual o custo real de financiamento dos seus financiamentos, bem como a abertura destes na procura de soluções;
  2. Estudar e desenvolver uma estratégia interna exequível sem colocar em causa a sobrevivência da empresa, para resolver a situação;
  3. Encetar negociações com credores para consolidar dívida e desta forma se tornar mais competitiva.
  4. Negociar condições exequíveis e competitivas, é importante que a empresa ganhe forças na negociação, não se vai à banca para perder força, vai-se sim negociar para se tornar mais competitivo 
É muito importante que as empresas regularmente percebam bem os seus fluxos financeiros, dai fazer sentido a criação de um mapa mensal de tesouraria, bem estruturado, permitindo desta forma saber quais os fluxos e qual a sua natureza permitindo desta forma a tomada de decisão atempada e mais eficiente,  tornando a empresa bem mais competitiva e claro gerando mais e melhores resultados, no fundo aquilo que todos queremos.

Como para as empresas interessam mais que tudo medidas práticas deixo aqui uma forma de calculo para que possam perceber o impacto dos custos financeiros no seu resultado


Cobertura dos encargos financeiros = EBITDA/Custos Financeiros - > Pode utilizar-se ainda como medida o Resultado Operacional na vez do EBITDA.

Este rácio ajudará a perceber melhor qual o peso dos custos financeiros na actividade operacional da empresa. O valor do rácio mais adequado dependerá como é certo do sector para sector e de empresa para empresa.

É fundamental tornar a sua empresa mais eficiente!

Para mais informações ou esclarecimentos já sabem...



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